O Grêmio que jogou de amarelo: a curiosa partida de 1971 contra o Flamengo

O Grêmio que jogou de amarelo: a curiosa partida de 1971 contra o Flamengo

O Grêmio que jogou de amarelo: a curiosa partida de 1971 contra o Flamengo

No vasto repertório de histórias do futebol brasileiro, algumas curiosidades permanecem quase esquecidas, guardadas apenas na memória de torcedores mais antigos ou em registros de arquivo. Uma delas envolve o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, tradicional clube gaúcho conhecido por sua identidade visual inconfundível: camisas azul, preta e branca listradas verticalmente. No entanto, em um dia específico de 1971, o Imortal entrou em campo vestindo uma cor que jamais fez parte de seu uniforme oficial: o amarelo.

O fato ocorreu em 24 de janeiro de 1971, durante um amistoso internacional realizado no Estádio Olímpico Monumental, em Porto Alegre. O adversário era o Flamengo, que na época excursionava pelo sul do país. O motivo para a mudança de cores foi prático e inusitado: ambos os times levaram para o jogo seus uniformes tradicionais, que, à luz do dia e sob o critério do árbitro, foram considerados suficientemente similares para causar confusão. O Grêmio, como mandante, teve que ceder e buscar uma alternativa.

Sem um segundo uniforme oficial que contrastasse adequadamente com o rubro-negro carioca, a solução encontrada pela direção gremista foi improvisada. O clube conseguiu emprestado um lote de camisas amarelas, provavelmente de um time local menor ou de categorias de base. Não há registros precisos sobre a origem das camisas, mas relatos da época e memórias de torcedores confirmam que o Grêmio atuou com camisas amarelas, calções azuis e meias brancas – uma combinação jamais vista antes ou depois na história do clube.

O jogo em si terminou com uma vitória gremista por 2 a 1, com gols de Alcindo e Everaldo para o Grêmio, e Dirceu para o Flamengo. O resultado, porém, ficou em segundo plano diante da cena surreal: o Grêmio, símbolo máximo do futebol gaúcho, defendendo suas cores e seu estádio vestindo amarelo. A partida foi tão atípica que até hoje é lembrada por aqueles que a presenciaram como “o dia em que o Grêmio foi canarinho”.

Este episódio singular revela aspectos interessantes da época. Na década de 1970, a logística e a regulamentação sobre uniformes eram mais flexíveis. Não existia a obrigatoriedade de um segundo ou terceiro uniforme registrado junto às federações, e soluções de emergência como essa eram mais comuns. Além disso, ilustra como amistosos internacionais, muito populares naquele período, podiam gerar situações imprevistas. Para o torcedor gremista, acostumado ao azul, preto e branco como elementos quase sagrados, ver seu time de amarelo deve ter sido uma experiência tão curiosa quanto desconcertante.

Mais do que uma simples anedota, esta história permanece como uma pérola do futebol brasileiro, um daqueles fatos que mostram como o esporte é feito também de momentos improvisados e soluções criativas. Ela não altera a trajetória vitoriosa do Grêmio, nem mancha sua identidade, mas acrescenta uma camada de humanidade e informalidade a uma instituição tão grandiosa. É um lembrete de que, antes do profissionalismo total e da padronização global, o futebol vivia de pequenos episódios que hoje soariam impossíveis. O Grêmio de amarelo foi um desses momentos, uma curiosidade histórica verdadeira que merece ser resgatada e contada às novas gerações de torcedores.

— Lance do Jogo