
O Corinthians que quase se tornou um time de vôlei: a curiosa história da tentativa de mudança de esporte em 1925
O Corinthians que quase se tornou um time de vôlei: a curiosa história da tentativa de mudança de esporte em 1925
No imaginário do torcedor brasileiro, o Sport Club Corinthians Paulista é sinônimo de futebol. Desde sua fundação em 1910, o clube construiu sua identidade e sua enorme torcida em torno da paixão pela bola redonda. No entanto, poucos sabem que, em um momento crucial de sua história, o Corinthians esteve perto de abandonar o futebol para se dedicar a outro esporte. Esta é a história pouco conhecida da tentativa de transformar o Timão em um clube de vôlei, um episódio que poderia ter mudado para sempre o destino do futebol brasileiro.
A década de 1920 foi um período de grandes transformações para o futebol paulista e para o Corinthians. O clube, que havia conquistado seus primeiros títulos estaduais em 1914, 1916 e 1922, enfrentava uma série de desafios estruturais e financeiros. O futebol ainda era um esporte amador, e a manutenção de um time competitivo exigia recursos que nem sempre estavam disponíveis. Foi nesse contexto de incertezas que surgiu uma proposta audaciosa e, para muitos da época, sensata.
Em 1925, um grupo influente de dirigentes e sócios do Corinthians, liderado por membros da diretoria, começou a defender a ideia de que o clube deveria migrar para o vôlei como esporte principal. Os argumentos eram vários e, à luz da realidade da época, pareciam convincentes. O vôlei exigia menos investimento em infraestrutura, os equipamentos eram mais baratos, e a modalidade começava a ganhar popularidade em clubes sociais e em escolas. Além disso, havia uma percepção de que o futebol estava se tornando muito violento e que o vôlei, por ser um esporte sem contato físico direto, seria mais seguro e mais adequado para um clube que também tinha uma forte vertente social e familiar.
A proposta ganhou corpo em reuniões da diretoria e chegou a ser colocada em votação entre os sócios mais influentes. Os defensores da mudança argumentavam que o Corinthians poderia se tornar uma potência nacional no vôlei, um esporte em ascensão, e escapar das dificuldades financeiras que o futebol amador impunha. Eles apresentavam projeções de custos menores com uniformes, menos desgaste físico dos atletas e a possibilidade de atrair um novo público. Era, em essência, um plano de sobrevivência e reinvenção.
No entanto, a ideia encontrou uma resistência feroz. A base da torcida, os jogadores e uma facção da diretoria liderada por figuras como o então presidente Alberto Lacerda se opuseram veementemente. Para eles, abandonar o futebol seria trair a própria essência do clube, fundado por operários apaixonados pelo esporte bretão. A identidade corintiana já estava intrinsecamente ligada ao futebol, e a torcida, embora menor do que é hoje, já demonstrava uma paixão incomparável. O debate foi acalorado, com reuniões tensas e discussões que dividiram o clube.
O ponto crucial da disputa foi a votação final. Em uma assembleia histórica, os sócios foram chamados a decidir o futuro do Corinthians. De um lado, a proposta pragmática de migrar para o vôlei; do outro, a defesa emocionada da permanência no futebol, mesmo com todas as suas dificuldades. A votação foi apertada, mas a paixão falou mais alto. Por uma pequena margem, a proposta de abandonar o futebol foi rejeitada. O Corinthians seguiria no futebol, custe o que custasse.
As consequências dessa decisão são imensuráveis. Se a votação tivesse sido diferente, o Corinthians poderia ter se tornado um clube de vôlei, talvez até uma potência na modalidade. Mas o futebol brasileiro teria perdido um de seus maiores clubes, um formador de craques, um campeão continental e mundial, e o dono de uma das maiores torcidas do planeta. A paixão que impediu a mudança em 1925 foi a mesma que, anos depois, levaria o Corinthians a conquistas épicas, como o primeiro título mundial de um clube brasileiro em 2000 e a inesquecível campanha da Libertadores e do Mundial de 2012.
Esta curiosidade histórica revela um momento de fragilidade e dúvida em uma instituição que hoje parece monolítica. Mostra que a história do Corinthians, e do futebol como um todo, é feita de escolhas cruciais. A decisão de permanecer no futebol, tomada por uma geração de corintianos em 1925, foi um ato de fé e paixão que ecoa até hoje. É um lembrete de que, por trás dos troféus e das glórias, há sempre histórias humanas de risco, debate e, acima de tudo, amor pelo clube. O Corinthians quase virou um time de vôlei, mas a coragem de seus sócios em manter o curso garantiu que o Timão continuasse sua trajetória para se tornar o gigante que é hoje.
— Lance do Jogo






